quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

AINDA GUIDAJE... REPOSIÇÃO DA HISTÓRIA !


Em Novembro de 2010 realizou-se no Grande Auditório do Aquartelamento da Academia Militar (Amadora), o lançamento do livro “A Última Missão”, da autoria do Cor. José de Moura Calheiros.

Trata-se de uma obra marcante e bem documentada sobre a última guerra que Portugal travou em África no século XX.
Pouco tempo depois da cerimónia de lançamento e após leitura do livro, no que respeita à operação realizada em 23 de Maio de 1973 que visava romper o cerco a Guidaje e reforço da sua guarnição, foi detectada uma “incorrecção” na descrição do avanço da força que procedia à “protecção próxima” da coluna de reabastecimento saída de Binta, constituída por elementos dos DFE’s 1 e 4, por mim comandados.
Tal “incorrecção” consiste na frase constante da página 471/472 (1ª Edição): “... O Comandante do DFE 4 estava muito próximo do local do rebentamento e foi projectado para longe pela violência da explosão. Foi, a partir daí, substituído pelo seu Imediato, 2º Ten Melo e Sousa.”
Ora em boa verdade, em momento algum o Comando do DFE 4 deixou de ser por mim exercido, desconhecendo-se a razão de tal inexactidão. Também os Eng. Pires de Moura e Dr. Corte Real (ex-oficiais do DFE 4) tiveram a oportunidade de me alertarem para tal erro.
Assim, passadas algumas semanas após o lançamento do livro, tive a oportunidade de me reunir com o seu autor Cor. José de Moura Calheiros e de lhe transmitir não só o meu muito apreço pela obra que levou a cabo, mas também de lhe referir a “incorrecção” atrás referida.
Encontrei receptividade por parte do autor para vir a ser reposta a verdade numa próxima e eventual 2ª edição do livro. E, nesse sentido, escreveu uma mensagem de profunda amizade e camaradagem no livro que adquiri e que a seguir transcrevo:



“ Para o Alves de Jesus

Para que possa recordar aqueles difíceis tempos da guerra da Guiné, em especial o cerco a Guidaje.
Com o perene lamento pela imprecisão quanto à transmissão do comando do DFE 4 na coluna de socorro a Guidaje, que corrigirei em próxima edição.
Com um abraço
a) José de Moura Calheiros

A obra do Cor. Moura Calheiros, pelo seu elevado mérito e aceitação, foi objecto de 2ª edição, pelo que em novo encontro que tivemos e por si promovido, teve a amabilidade de me oferecer um exemplar com a mensagem que a seguir transcrevo e que testemunha o seu carácter e estatura moral:

“ Para o Camarada e Amigo Alves de Jesus

Com as minhas desculpas pelo erro na 1ª Edição.
E para que possa recordar, agora descrita de forma correcta, aquelas amargas horas a caminho de Guidaje, onde o seu DFE 4 teve papel relevante.
Com um abraço
a) José de Moura Calheiros

Fica assim esclarecido pelos protagonistas, este episódio da guerra colonial na Guiné, decorridos que são cerca de 40 anos.

Alves de Jesus

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Recebido, via correio electrónico, do CAP. FRAG. FZ REF. ABEL MELO E SOUSA



Distintos Camaradas do Blogue do DFE 4
Tomei conhecimento da existência do Blogue do DFE 4 Guiné (73-74) e aproveito para deixar o meu depoimento sobre uma operação de escolta de Binta para Guidage em 23 de Maio de 1973, em que espero esclarecer algumas dúvidas e realçar a valente e destemida atitude do Comandante da força de fuzileiros dessa operação, o 1º TEN AN FZE Albano Manuel Alves de Jesus, que nunca vi escrito em nenhum lugar.
1º Em Maio de 1973 uma força de cerca 40 fuzileiros do DFE1 e DFE4, comandada pelo 1TEN AN Alves de Jesus, sai de Binta na direcção de Guidage em protecção próxima a uma coluna do Exército; em protecção afastada seguia a Companhia de Pára-quedistas nº 121, comandada pelo CAP Almeida Martins:
2º A meio do percurso a coluna entra numa zona de minas anti-carro, provocando a morte de dois picadores do Exército, o que fez com que estes se recusassem a continuar a picagem;
3º Entrou-se, então, num impasse porque sem picagem a coluna não podia prosseguir. Numa atitude inédita e de grande coragem, o 1TEN Alves de Jesus desloca-se à zona de picagem e pega numa das picas e incentiva os picadores, dando ele próprio o exemplo;
4º Decorrido menos de um minuto ouviu-se de novo uma grande explosão. Confesso que pensei o pior e chamei o 1º SAR FZE Reis (excelente combatente e especialista em minas e armadilhas) e penetrámos na nuvem de poeira causada pela explosão:
5º Um dos picadores morreu ao fazer a picagem e o 1º TEN Alves de Jesus, que seguia muito perto, foi projectado pelo ar sem ferimentos visíveis, mas ficando muito maltratado e com a audição afectada;
6º Ao mesmo tempo, juntou-se ainda o ferimento grave do 1º GRT FZE Óscar Santos, que accionou uma mina, ficando sem um pé e sem uma das vistas;
7º Havia que regressar a Binta, pois os Fuzileiros tinham um ferido grave que não podia seguir para Guidage, dado naquele período estarem suspensas as evacuações aéreas;
8º É nesta altura que eu falo com o avião que efectuava o PTV (onde se encontrava o MAJ Moura Calheiros, oficial de grande prestígio que o meu Destacamento já conhecia do COP4 na zona do Cantanhês, no Sul), e que fazia o «relais» das transmissões do comando do COP3 que se encontrava em Guidage, dado o 1º TEN Alves de Jesus estar com a audição temporariamente afectada;
9º O TCOR CAV Correia de Campos (Comandante do COP3) ordena então, através do MAJ Calheiros, o regresso da coluna a Binta.
Abel Melo e Sousa (Bellini)(Ex Imediato do DFE1)